A marcha que nunca foi para Jesus!
Em São Paulo, vai acontecer mais uma edição da Marcha para
Jesus. Este evento espalhou-se pelo Brasil de forma gradativa e hoje faz parte
do calendário de várias cidades.

Há muitos anos, este evento vem sendo questionado por muita
gente, em decorrência de ser organizado por uma única denominação com pessoas
duvidosas à frente, bem como pelas práticas e resultados negativos de tais
manifestações públicas.
Antes de qualquer análise, é importante salientar a origem
de tais eventos. O modelo original da Marcha para Jesus que a Igreja Renascer
copiou é tão questionável quanto a existente em nosso país. Aliás, infelizmente
no Brasil já é tradição a importação de movimentos controversos de outros
países.
O conceito “Marcha para Jesus” começou na
Inglaterra em meados de 1987, através de uma ação ecumênica entre
protestantes e católicos de Londres. A organização foi iniciativa dos líderes
carismáticos Britânicos Gerald Coates, Roger Forster, Lynn Green e Graham
Kendrick. Segundo eles, a passeata pública foi feita para demonstrar a “unidade
entre a Igreja” e expressar a fé cristã para a sociedade, bem como promover
atos proféticos de batalha espiritual contra espíritos territoriais malignos,
dominantes da Europa secularizada.
O que muitos não sabem é que estes líderes britânicos são
adeptos de práticas neopentecostais controvérsias e de conceitos anti-bíblicos.
Para se ter uma idéia, um dos idealizadores da Marcha é Gerald Coates, famoso
carismático liberal Britânico, que tem como referência nada menos que Rodney
Howard-Browne, Benny Hinn e Kenneth Copeland.
Coates nega abertamente a inerrância e suficiência das
Escrituras, defende a benção de Toronto e o derramamento de Pensacola como
“mover” do Espírito Santo, utiliza como fontes de ensino a espiritualidade Celta, além
de emitir falsas profecias e apoiar falsos profetas como Paul Cain.[1] Lynn
Green é um carismático ecumênico que defende a unificação doutrinária das
religiões monoteístas, principalmente entre católicos e protestantes.[2] Roger
Forster é um carismático controverso, árduo defensor da batalha espiritual e da
luta contra espíritos territoriais malignos, através de atos proféticos e
outras práticas místicas.[3] Por fim, Graham Lendrick é um ministro de louvor
carismático, autor de músicas com letras teologicamente questionáveis, também
defende o ecumenismo, a benção de Toronto e é adepto da confissão positiva.
Com estas informações, podemos ter uma ideia do que conceitua-se
a original Marcha para Jesus. Entretanto, no Brasil o problema é muito mais
grave.
Como todo ano, o evento reúne diversas denominações
evangélicas, reunidas em uma grande procissão pelas ruas da capital paulistana.
Mas qual o objetivo desta Marcha para Jesus no Brasil?
Segundo o “presidente” da Marcha para Jesus, “Apóstolo”
Estevam Hernandes, “a Marcha Para Jesus não foi criada para exaltar nenhum
homem, é a expressão do mover do Espírito Santo e um ato proférico!“(sic).[4]
Frase contraditória, pois se Estevam é o presidente da Marcha para Jesus,
automaticamente o mesmo será exaltado de alguma forma! Ora, presidente é aquele
que exerce uma liderança máxima, que ordena, que delega, que dá a palavra final
e que sanciona. Nem mesmo os líderes de outras denominações presentes na marcha
possuem autoridade sobre o evento, quem dá as cartas é o líder da Renascer.
Além do mais, todos sabem que os discípulos da Igreja dos Hernandes “lutam e
morrem” por eles, tendo em vista o famoso jargão popularizado na época da
prisão dos líderes da Renascer: “Espada pelo Apóstolo e pela Bispa!”
A justificativa para o “fundamento espiritual” do evento é
pior ainda, vejamos:
“A Marcha tem como fundamento bíblico as passagens de Êxodo
14, Josue 6 e João 13:35 [...]Todos os anos, a Marcha para Jesus têm revelado –
em âmbito mundial – o poder e a misericórdia de Deus aos homens. Milhares de
pessoas são curadas, libertas e restauradas.”[5]
Francamente, citar passagens do Antigo Testamento não
justifica a realização da Marcha para Jesus. As “marchas” do povo Hebreu não
tinham como alvo evangelizar ou curar, mas eram marchas de guerra, para
conquistar povos ou exterminar inimigos, conforme a vontade de Deus naquela
época. No Êxodo, o que ocorreu foi um livramento específico de Deus para com o
povo Hebreu e não uma procissão evangelística. É totalmente anti-bíblico
alegorizar tais passagens Veterotestamentárias como se o povo Israelita
estivesse marchando para fora do Egito e para Canaã, de caras pintadas, com
bandeiras e faixas, os levitas fazendo shows gospel com seus respectivos
instrumentos, com o objetivo de “ganhar” para o Deus de Israel os egípcios e os
cananeus!
Imaginem então, tomar de forma literal o texto de Josué 6
para os dias de hoje! Já que é para literalizar o texto, então os “marchadores”
devem também tocar trombetas, marchar em volta da cidade sete vezes (não
somente uma dentro da cidade), ficar silenciosos (sem trios elétricos, sem
gritos e sem triunfalismos) nas seis primeiras voltas e só gritar na sétima.
O interessante é que não vemos em nenhum lugar no Novo
Testamento a ordem evangelística de marchar para Jesus, ou no Antigo Testamento
para Deus, muito menos nas literaturas dos pais da Igreja, reformadores,
missionários e evangelistas por toda a história. Não há, absolutamente, nenhum
fundamento espiritual cristão para se praticar marchas evangelísticas. Na
verdade, eu não consigo imaginar como alguém pode se converter em um evento
como este.
Além do “presidente” da Marcha para Jesus em destaque,
também são destacados os trios elétricos que puxam a “micareta gospel”, ao som
de músicas triunfalisticamente antropocêntricas, preparadas cuidadosamente para
massagear o ego dos participantes em detrimento do evangelho que confronta o
caráter. Uma “musicalidade” com direito ao melhor do gospel atual: funk, axé,
pagode e até reggaeton! Aí eu pergunto: A conversão vem através do ato de
levantar a mão e ir até a frente do trio em resposta a um apelo feito neste
ambiente? É no mínimo questionável esse tipo de evangelismo, pois a palavra
quase não é proclamada devido ao foco na euforia festiva, salvo raras exceções
quando é falada ou cantada, mas de maneira superficial e distorcida, onde não
há entendimento profundo das Escrituras.
Por falar em trio elétrico, muitos vêem os mesmos como uma
grande oportunidade de promover seus interesses particulares. Afinal, trata-se
de um evento com participação popular de mais de três milhões de pessoas em
média. A ocasião é perfeita para os manipuladores de massa de manobra,
principalmente políticos, dos quais com certeza vão aproveitar a véspera de ano
eleitoral para articular alianças com o “povo gospel”.
O que falar do misticismo, dos atos proféticos, do
triunfalismo apostólico exclusivista e das profetadas que nunca se cumprem,
dentre outros absurdos que testemunhamos todos os anos nesses eventos? Em 2008,
eu postei no meu blog alguns atos anti-bíblicos praticados na respectiva marcha.
Pessoas anotavam pedidos e dificuldades num papel, colocava o mesmo dentro dos
calçados com o intuito de “marchar” em cima para quebrar as maldições escritas
no papel, profetizando a conquista de seus recpectivos pedidos (veja aqui). Ou seja, um ambiente neopentecostal,
antropocêntrico em sua essência, onde é potencializada as mais variadas
práticas místicas e anti-bíblicas que se pode inventar.
Posto isso, infelizmente concluo que a Marcha para Jesus no
Brasil tornou-se num evento com quatro objetivos principais:
1 – Competir com a “marcha do orgulho gay” em termos
numéricos;
2 – Servir como trampolim para promoção de cantores, líderes e políticos “gospel”;
3 – promover o comércio milionário de produtos/serviços gospel;
4 – Ser um transtorno para a ordem da cidade, por conta da perturbação do sossego público e do bloqueio ao trânsito, afastando as pessoas do evangelho, bem como envergonhando os cristãos que não compactuam com o evento.
2 – Servir como trampolim para promoção de cantores, líderes e políticos “gospel”;
3 – promover o comércio milionário de produtos/serviços gospel;
4 – Ser um transtorno para a ordem da cidade, por conta da perturbação do sossego público e do bloqueio ao trânsito, afastando as pessoas do evangelho, bem como envergonhando os cristãos que não compactuam com o evento.
O meu desejo é que o povo acorde de toda essa utopia
prisional, que Cristo não seja utilizado como cabo eleitoral de algum político
e que o cristianismo deixe de ser um trampolim para o sucesso de alguém.
Marchemos pela ética evangélica brasileira!
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